História viva do Bexiga é celebrada em encontro da memória eleitoral paulista

Evento “Pintou a Toga no Bexiga” reuniu personalidades e mostrou a relação do TRE-SP com a região que hoje abriga a sua sede

Exibição de filmes durante evento do Cemel

As características urbanas e sociais do Bexiga, seus personagens e os principais fatos que contribuíram para a formação da região, situada no bairro da Bela Vista, centro da capital, foram resgatados no evento “Pintou a Toga no Bexiga”, nesta segunda (8). O encontro transportou a história viva dessa tradicional parte da cidade ao plenário do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) e revelou a relação da Corte — cuja sede fica na localidade — com a sua vizinhança. A ação, parte das comemorações do Dia Nacional da Memória do Judiciário, foi organizada pelo Centro de Memória Eleitoral (Cemel) do TRE-SP.

Três personalidades que marcaram o cenário e a memória do Bexiga foram homenageadas, recebendo certificado de reconhecimento outorgado pelo presidente do TRE-SP, desembargador Paulo Sérgio Brant de Carvalho Galizia. Um dos agraciados foi o artista plástico Biaggio Mazzeo, responsável pela pintura de 39 retratos de presidentes do Tribunal e quatro secretários-gerais entre 1958 e 2019. Filho de pai italiano e de uma brasileira filha de imigrantes italianos, ele sempre morou na região, onde também montou seu ateliê.

Outro condecorado foi o professor de sociologia Álvaro de Aquino e Silva Gullo, da Universidade de São Paulo (USP), especialista em comunicação de massa e emérito cidadão nascido e criado no Bexiga. Também foi reconhecida a produtora audiovisual Thais Taverna Chaim, atual curadora do Centro de Memória do Bexiga, fundado por seu avô Walter Taverna, figura histórica do bairro. Taverna foi um dos responsáveis pelo Bolo do Bexiga, tradição do aniversário de São Paulo. O bolo, que tinha um metro para cada ano da cidade, entrou para o “Guinness Book”, o livro dos recordes, por conta de sua extensão.

Em seu discurso, o desembargador Galizia agradeceu aos três homenageados. “Todos deram sua contribuição para a nossa história, o nosso bairro, a nossa sede e nosso estado. Esse diploma os reconhece com muita sinceridade e alegria”. Ele ainda lembrou as raízes históricas do Bexiga — localidade onde foi construído o primeiro quilombo de São Paulo e, posteriormente, acabou ocupada por italianos, recordando os laços familiares com o bairro. “Minha mãe morava na Martiniano de Carvalho, local onde meu pai, vindo do interior, de Bariri, morou numa pensão. Ali, eles se conheceram e vieram a se casar na Igreja do Carmo”.

O presidente do Tribunal citou as andanças pela região nos tempos de estudante. “Frequentava o Cine Bexiga, o Café Piu Piu, de forma que tenho uma ligação muito forte com o Bexiga. Estou aqui no Tribunal Regional Eleitoral, em várias passagens, desde 2004. Lembro ainda do Teatro Oficina. Então, o bairro é um protótipo daquilo que é São Paulo, que tem raízes de negros, de imigrantes, e que está sempre em transformação. Por isso nós precisamos preservar essa memória”.

1/ Galeria de imagens

Redemocratização, cena cultural e inclinação política

O vice-presidente e corregedor do TRE-SP,  desembargador Silmar Fernandes, contou que o complexo de edifícios da Corte, interligados entre a Rua Francisca Miquelina e a Avenida Brigadeiro Luís Antônio, foi inaugurado em 6 de junho de 1970. A data é emblemática porque 25 anos antes, em 6 de junho de 1945, a Justiça Eleitoral paulista renasceu no Palácio da Justiça, com o fim do regime do Estado Novo.

“Não duvidaria que o grande desembargador Mário Guimarães, que presidiu a reinstalação da Justiça Eleitoral em São Paulo, e foi um personagem absolutamente decisivo para a redemocratização do Brasil, não tivesse pensado em uma outra data senão 6 de junho, ou seja, o 6 de junho do ano anterior, de 1944, data do desembarque dos aliados na Normandia, marcando o início do fim da Segunda Guerra Mundial”, discursou.

O juiz também destacou a importância do Bexiga para a cena cultural de São Paulo. Em 1950, os músicos norte-americanos Nat King Cole e Louis Armstrong se apresentaram no antigo Teatro Paramount, atual Teatro Renault. Já no teatro da velha sede da Federação Paulista de Futebol, a atriz Cacilda Becker fez seu último espetáculo, em 1969.

O gestor do Centro de Memória Eleitoral, José D'Amico Bauab, afirmou que o Bexiga tornou-se, ao longo do século 20, um experimento antropológico e sociológico. “Italianos faziam samba e negros falavam italiano. Era uma espécie de globalização centrípeta, isto é, de fora para dentro, em que raças distintas se harmonizam no mesmo espaço habitável, sem a formação de guetos ou de quarteirões confinados por etnias, situação bem oposta ao que ocorre na cidade de Nova York, por exemplo”, explicou, destacando que, atualmente, o “Bexiga inclusivo” se renova com a imigração africana.

Ele ressaltou a inclinação política da localidade, que além do TRE, abriga a Câmara Municipal, citando personagens importantes da história de São Paulo. “Brigadeiro Luís Antônio era casado com Dona Genebra, ambos progenitores de Francisca Miquelina, que era a neta de Maria Paula. São nomes que identificam as vias públicas em torno do Tribunal e oriundos da família que protagonizou os destinos do pequeno povo de Piratininga na primeira metade do século 19. Hoje, mais do que nunca, o bairro da Bela Vista é o nosso Bexiga.Traz a sua marca inapagável na história do voto aqui na rua Francisca Miquelina e continua sendo uma porta generosa, aberta para o mundo por meio do centro de referência de atendimento para imigrantes, na rua Major Diogo”, argumentou.

Homenageados e a ligação afetiva com o bairro

Durante o evento, o servidor do Cemel Luiz Alexandre Kikichi Negrão apresentou as histórias das cinco sedes do TRE em São Paulo. Na sequência, foram exibidos três documentários. “Biaggio Mazzeo em retrato”, produzido pelo servidor do Cemel Washington Assis, abordou a trajetória do artista que constituiu família e desenvolveu sua carreira artística no Bexiga. Já a película “Bexiga - Ano Zero”, produção premiada de 1971, da cineasta Regina Jehá, mostrou a transformação urbanística ocorrida na virada dos anos 1960 no bairro. O filme “Virado à Paulista”, produzido em 2014 por equipe de alunos da Escola Técnica Estadual (Etec) Jornalista Roberto Marinho, apresentou o Bexiga por meio de atrativos culturais e gastronômicos.

Com 98 anos, o artista plástico Biaggio Mazzeo relatou que aprendeu a arte da pintura com o artista austríaco Tony Koegl, seu vizinho. O pintor veio para o Brasil após a eclosão da 1ª Guerra Mundial e passou a fazer retratos de famílias importantes de São Paulo. “Morávamos na Rua Santo Amaro, e eu o acompanhava pintando todo dia, foi meu professor. Fui aprendendo assim, olhando e recebendo os conselhos dele”.

A sua ligação com o TRE-SP começou quando se casou com uma servidora do Tribunal, com quem teve três filhos. “Eu ajudei na organização das eleições e conheci o Tribunal por dentro, uma repartição das mais eficientes. Certo dia, recebemos a notícia de que um funcionário morreu [o secretário do Tribunal Ibsen da Costa Manso, cargo então equivalente ao de diretor-geral] numa queda de avião e resolvi homenageá-lo, fazendo um retrato, e entreguei ao Tribunal. Depois, me chamaram para pintar o presidente, desembargador Justino Maria Pinheiro, e eu continuei fazendo isso por anos e anos, é o meu trabalho mais importante”, afirmou.

O professor da USP Álvaro de Aquino e Silva Gullo informou que o Bexiga recebeu esse nome em virtude de uma epidemia da varíola. Mais tarde, tornou-se Bela Vista, muito provavelmente em virtude da vista que se tinha do bairro a partir do Morro dos Ingleses. Também de origem de família italiana, ele lembrou que o casarão em que vivia, na Rua da Abolição, quase foi devastado por uma granada lançada na Revolta Paulista de 1924, em que São Paulo se rebelou contra o governo federal de Arthur Bernardes.

“Os revoltosos se concentraram na região do Morro dos Ingleses, e os legalistas perto do quartel do Exército, no Cambuci, no final da rua Independência. No confronto, uma granada caiu na casa onde minha avó morava. Por sorte, não explodiu. Se a granada tivesse explodido, eu não teria nascido”, brincou, revelando ainda histórias como a do ladrão Gino Meneghetti, conhecido por roubar mansões na localidade entre 1920 e 1970 e fugir pelos telhados paulistanos, e a sua participação em restauros de prédios históricos, como o da Casa de Dona Yayá, na rua Major Diogo, que virou um centro cultural.

Curadora do Centro de Memória do Bexiga, Thais Taverna Chaim agradeceu a homenagem em nome do avô, com quem afirmou ter aprendido o que é resistir. “O meu avô foi uma das pessoas que lutou pelo tombamento do bairro, pela preservação dessa arquitetura que hoje a gente conhece, fazendo com que a especulação imobiliária não destruísse essa história e que essa memória não ficasse só em conto de livros ou filmes”.

Ela destacou que Walter Taverna nasceu na rua Treze de Maio e, desde pequeno, exerceu seu papel social, sendo também um dos fundadores do bloco carnavalesco Esfarrapado, o mais antigo de São Paulo, de 1947. “Ele criou um amor muito grande por esse território ao entender que a transformação da cidade poderia devastar essa história. A gente fala dos negros e italianos, mas também não podemos esquecer os nordestinos, que são predominantes desde a década de 1950. Somos a favor do progresso, da transformação, mas sem o apagamento histórico. Precisamos preservar e manter a história”, defendeu.

No fim do encontro, o público recebeu exemplares do “Dossiê Eleitoral Paulista”, livreto institucional que traz textos e imagens de natureza histórica, além de dados estatísticos das Eleições 2022. O evento contou ainda com a presença dos ex-presidentes do TRE-SP Waldir Sebastião de Nuevo Campos Junior e Carlos Eduardo Cauduro Padin, além da juíza assessora da Presidência, Denise Indig Pinheiro, da juíza assessora da Corregedoria, Fernanda Colombini, do diretor-geral do TRE-SP, Claucio Corrêa, e da procuradora regional eleitoral Paula Bajer, entre outras autoridades.

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